quinta-feira, 26 de maio de 2011

O EXECUTOR

26 – COMEÇAR DE NOVO

Ainda hesitou em seguir o desafio que alguém lhe enviara. A fotografia, a cidade balnear da Argentina.
No seu subconsciente percebia que alguém o continuava a manobrar, arrastando-o para um caminho onde poderia ter de enfrentar consequências imprevisíveis.
O que fizera, os trabalhos que prestara, as ligações que, no final, se tinham tornado evidentes, significavam para alguém que o seu papel na Organização estaria esgotado. Obrigara pessoas a dar a cara e isso teria um preço.
Mas, e Pedro sabia isso desde o início, que uma vez entrando aceitara as regras e isso significava que, sair poderia ser muito complicado, tão difícil e perigoso como tinham sido as suas missões.
Era por temer vir a transformar-se num obstáculo, que ele sempre se rodeara de precauções. Nunca quisera expor ninguém. Ele só decidira o caminho e só ele o teria de percorrer.
Por uma vez, transigiu. Apaixonou-se e o amor transformou-se em tragédia.
Só algum tempo depois de ter voltado, se decidiu a abrir o envelope que recebera no hotel. O dinheiro chegara à sua conta numerada, o nome do Director de Operações da Organização que montara a armadilha em que Gabriela dera a vida, estava indicado, mas nem perdeu tempo. Era de certeza um nome falso.
As explicações sobre o desenrolar da operação de sequestro dos dois traficantes, eram ainda mais vagas. Não teria havido conluio e o desfecho fora exactamente o que a Organização tinha decidido. Só lhe reafirmaram que ele, cumprira a sua missão, e o desenvolvimento posterior da mesma, fora confiado a um outro operacional, cujo nome, naturalmente, omitiram.
Ele tinha ainda trunfos da manga e que já pensara utilizar. Mandar para o Detective de Nova Iorque, cópia da correspondência relacionada com o crime ou transmitir o dossier para um jornal.
Sentia-se pressionado e sob vigilância. Sabia que alguém o estaria seguindo. Mudou todas as chaves de acesso ao computador, alterou passwords, mudou de fornecedor de internet e mesmo assim não estava tranquilo.
Eliminou mais uma pista, fechou a conta numerada nas Ilhas Cayman, mudando-a para outro Banco que foi escolher em Andorra.
E, na verdade, durante algum tempo não recebeu nenhuma mensagem, admitia que tivesse despistado o seu seguidor, muito embora, apenas temporáriamente.
Nunca conhecera a família de Gabriela. Sabia que tinha irmãos mais novos e que os Pais viviam algures na Beira Alta. Queria repartir o valor recebido, ele queimava-lhe as mãos, mas não foi capaz de enfrentar a família. Isso era superior às suas forças. Ao encontrar entre os papéis que Gabriela arrumara no escritório, correspondência com o Pai e uma cópia do extracto bancário duma conta conjunta, respirou de alívio. Foi para essa conta que transferiu uma avultada soma de dinheiro, enviando o comprovativo da operação para o endereço que conhecera, acompanhado por uma simples nota, não assinada, dizendo tratar-se duma ordem de alguém que muito amara Gabriela.
Pouco a pouco foi fechando aquele capítulo da sua vida. Queria distância, perder-se no caminho que tinha trilhado, começar de novo.
Antes de se mudar resolveu cumprir o que a sim mesmo impusera. A morte de Gabriela não devia ficar impune. Organizou um ficheiro com todos os dados que guardara, juntou-lhe cópia do documento da Organização, e aproveitando uma deslocação a Marselha para encerrar o pequeno escritório, fez o seu envio anónimo, para a NYCPD, Lower Manhattan, Chambers street, ao cuidado do Detective Francis Cole.

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