sexta-feira, 20 de maio de 2011

O EXECUTOR

22 – FIREWORKS

O desespero era tão intenso que lhe toldava o cérebro. Agora por entre as lágrimas de dor, lembrava o que ele havia lutado para fugir do amor. As suas relações tinham sido sempre ocasionais, fugidias, encontros sem amor, apenas paixão carnal que uma vez vivida, logo esquecia.
Mas, finalmente, como um coração louco, deixara-se embalar nos braços de uma mulher que tudo lhe dera, mulher e companheira, e ele retribuíra vivendo aquele amor, duma forma tão intensa, que estava certo nunca iria esquecer. Gabriela dera-lhe o corpo e a alma e por fim, dera-lhe também a vida.
Pedro sabia que ela havia sido vítima da armadilha que lhe estava destinada. Ela não fora capaz de esperar e decidira ir à sua procura. Ficou assustada com o cenário, e como um anjo da guarda correu ao seu encontro. Correu e encontrou a morte.
Não sabia o que fazer mas não podia ficar encerrado no quarto do hotel.
No quarto sentia o odor, o perfume de Gabriela. Ela partira, mas a sua imagem não lhe saía do pensamento. Guardava os olhos apaixonados, os momentos de amor que lhe tinham incendiado o corpo e dominado o coração. E tudo acabara num mar de chamas.
E, pela vez em tantos anos de perigo, de loucura e de aventuras, sentia-se soçobrar e incapaz de reagir. Perdera a razão de viver, naquele quarto mergulhado na penumbra e no silêncio pensou em desistir e partir.
Tomou um banho, mudou de roupa e ia a sair para voltar ao local do crime.
Lá, conseguiria expiar a sua culpa, e a revolta e quem sabe, ganhar força para continuar o caminho. O passado tinha morrido naquela noite, no futuro nem queria pensar. Os olhos ganharam novo brilho, os músculos lassos pela dor, ganhavam de novo o vigor, mas precisava de ver o corpo destruído e sobre ele deitar as últimas lágrimas e dizer adeus.
Antes de sair verificou que o seu telemóvel estava sem bateria. Voltou atrás, ligou o carregador e o número de segurança e esperou que o aparelho tivesse alguma carga. Esteve esperando algum tempo, espreitando da janela a noite estrelada e as luzes da cidade.
Voltou a pegar no telemóvel, tinha uma chamada não atendida. Abriu, reconheceu o número de Richard. Foi à pasta das mensagens e tinha uma curta do amigo. Dizia:
- Pedro, também estou em NY. Liga-me, Dick.
Ele ligou, ouviu a voz do amigo e com a voz embargada, só conseguiu dizer:
- Dick preciso muito da tua ajuda. Estou no Millenium Hilton junto do“World Trade Center”. Vem depressa, por favor e desligou.
Sentou-se no sofá com a cabeça entre as mãos. O corpo tremia como açoitado por um vendaval, o suor frio corria pelo corpo, parecendo um vírus que lhe corroía a carne.
E foi assim que o amigo o foi encontrar.
Pedro ganhou um pouco de serenidade e contou toda a história que o levara a NY, e por fim o trágico fim da companheira.
Richard, olhou para o amigo desesperado e perdido e decidiu:
- Vais ter de procurar a Polícia, contando que admites que o corpo carbonizado seja o da tua companheira, que desapareceu do hotel. Eu vou já telefonar a um Advogado meu amigo para te acompanhar à Polícia. Ele virá aqui ao hotel, não tarda.
Não creio que venhas a ter qualquer problema, salvo teres de identificar o corpo. Vai doer mas tens que o fazer.
Mas não fales da tua história, da conspiração, da troca de correio, das ligações com uma Organização que não sabes sequer se existe, das suspeitas que alguém te quis eliminar. Isso não é assunto para a Polícia, tem que ser seguido a outro nível. Eu proponho um encontro com um colega da NSA, é de confiança e o teu testemunho pode ser a peça que ele procura para desmantelar uma rede. Além do mais é um amigo acima de qualquer suspeita. Ele fará o que tiver que ser feito.
Tudo vai correr bem, só nada poderemos fazer pela tua mulher, senão conseguir libertar o corpo, para que tu o leves e lhe dês o funeral, na tua terra. Isso é o que te prometo.

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