segunda-feira, 16 de maio de 2011

O EXECUTOR

20 – TEORIA DA CONSPIRAÇÃO

Pela primeira vez Pedro tinha aberto o livro da sua vida. Gabriela não se mostrou surpreendida, pois há muito tempo sabia que o trabalho de análise financeira de projectos de investimento, a actividade que suportava a sociedade que Pedro montara e que ela ia gerindo, era a capa para outras actividades, pressupostamente ligadas ao combate do crime transnacional.
O que Pedro lhe contara era apenas a confirmação da sua suspeita.
Todavia, ele não lhe falara que a sua principal tarefa era eliminar pessoas incómodas. Era um mercenário, um executor por encomenda. Disso, ele guardara segredo. Na realidade, porque começara a conviver mal com esta situação. Dia após dia, estava mais longe do Pedro que, movido pelo espírito irrequieto, se deixara arrastar para um mundo de aventuras, cujo fascínio ia diminuindo.
Ao receber a disquete do Daniel, deixara de estar interessado na entrevista para que fora convocado e que teria lugar a 10 de Março próximo. O que procurava obter nessa entrevista, já o tinha conseguido, com as informações do antigo colaborador. Não fazia sentido continuar a correr riscos e relembrando o conselho do Daniel, alertando-o para a sua exposição, decidiram regressar a Lisboa.
Aqui, Pedro procurava rever todo o planeamento da operação “Swordfish”, relembrar as comunicações recebidas, analisar o seu encontro em Barcelona, porquê em Barcelona? Não entendia! Precisava de passar à lupa as pessoas que conhecera em Marselha, no Mónaco, a facilidade dos contactos com os traficantes, o modo tão rápido como fora convidado a entrar no grupo de jogadores com entrada no barco, enfim tudo o que pela facilidade, agora lhe parecia suspeito. Não era tarefa fácil entender os meandros, e alguma coisa teria havido, que lhe passara ao lado. Mas percebia que fora guiado para um determinado caminho, que a sua companheira “Anne” estivera envolvida, mas que na hora decisiva, o deixara vivo. Era mais um mistério.
Optou por tentar obter informação da fonte, recorrendo à Organização, o que só deveria fazer em caso de gravidade. E ele admitia que as suas dúvidas configuravam um caso a merecer atenção.
Utilizando a chave de acesso que tinha, escreveu a mensagem, em linguagem cifrada, que enviou para o endereço reservado. Nela lamentava não ter levado a bom termo o seu trabalho, pois deixara fugir os suspeitos capturados a bordo. Pedia autorização para retomar a missão, localizando e executando os dois alvos referenciados.
Era uma pergunta a não esperava obter resposta. Afinal, a Organização até tinha aprovado e pago o montante orçamentado!
Porém e para sua surpresa, recebeu a confirmação em correio normal, de que o Director de Operações considerara cumprida, com êxito, a operação e dava como encerrado o dossier.
Pedro ficou desorientado e tinha razões para tal. Pela primeira vez havia recebido uma mensagem que até indicava o cargo do remetente.
Das duas uma pensou, ou a Organização quebrara uma regra de segurança por engano ou falta de profissionalismo, ou fora vítima de uma intrusão no seu sistema informático. Qualquer das hipóteses era muito perigosa e ele não se sentia protegido, logo indisponível para continuar a aceitar missões.
Custava-lhe entender os equívocos como sendo o resultado duma teoria da conspiração. Mas assim parecia ser.
Não ficou parado e preparou-se para viajar para Nova Iorque. Iria trabalhar sem contactos, partir do zero, guiado apenas pelo seu instinto e pela sua experiência e apoiado nos dados que acumulara desde que tinha se tinha ligado à Organização, e que guardara entre as páginas de um inofensivo livro de viagens.
Convidou Gabriela. A sua presença era importante para desviar eventuais suspeitas e, reconhecia que se tinha habituado à companhia de uma mulher inteligente, perspicaz e apaixonada.
E Nova Iorque era uma cidade perfeita para dois amantes. Os riscos, Gabriela sabia existirem, mas não lhe faziam medo.
Trataram dos vistos de turismo e no início do mês de Junho aterraram em Newark.
E passado o deslumbramento dos dias e das noites, em que o mundo, os segredos e os perigos foram esquecidos, viveram a paixão duma cidade que iria marcar o seu destino.
Com dor e lágrimas.

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