segunda-feira, 23 de maio de 2011

O EXECUTOR

23 – JOGO SUJO
Pedro reagia como um autómato a todas as decisões do amigo. Estava num momento de descrença e desalento, como nunca antes tinha vivido.
Ele que tanto prezava a independência nos actos e sempre soubera decidir os caminhos, estava agora ausente e sem vontade.
Enquanto o amigo falava ao telemóvel, sentara-se no sofá, fechara os olhos e sentiu que de um modo, alguém o estava a guiar, afastando-o da realidade.
Gabriela rira-se quando ele falara da teoria da conspiração. Ela não acreditava mas Pedro racionava como um jogador de xadrez. Via o jogo como um desafio entre dois cérebros e era capaz de seguir uma estratégia complicada, feita de avanços e recuos até ao xeque-mate.
Lentamente foi recuperando o seu autodomínio. Estava desperto e atento mesmo simulando uma letargia profunda. O seu treino fazia com que, quase ouvisse o trabalhar das células do seu cérebro. Era um tic tac que, lentamente, lhe despertava os sentidos.
Percebera e compreendia as razões do amigo. E mais ainda a marcação dum encontro com alguém da NSA.
Entretanto o Advogado chegou ao hotel. Richard já lhe contara o principal e Pedro preparou-se para o acompanhar à esquadra de Polícia. O amigo ficava aguardando o contacto do amigo da NSA para acertar o encontro. Deixaria uma nota com o local e hora.
Pedro passou a noite na esquadra da Polícia. Foi, finalmente, ouvido pelo Detective de Homicídios, assinou o depoimento e saiu cercas das seis horas da manhã.
O corpo carbonizado de Gabriela já se encontrava na morgue e só poderia proceder à sua identificação, no final do dia. O Detective, negro, de meia idade com um olhar que inspirava confiança, acompanhou Pedro até ao Hotel para recolher roupa ou objectos da vítima, eventualmente necessários para exames de ADN.
O Detective, Francis Cole, entrou na suite que percorreu, e antes de recolher o que precisava, comentou:
- Pelo que me é dado verificar os senhores estavam preparados para sair. Nem desfizeram a bagagem. Quer acrescentar alguma coisa à sua declaração, perguntou enquanto espreitava a nota manuscrita deixada na mesa-de-cabeceira?
Pedro não desviou o olhar e respondeu:
-Como o senhor pode testemunhar no registo do hotel, nós só chegamos por volta das cinco da tarde e a reserva era para uma noite apenas. Parte das nossas férias, estivemos hospedados no hotel Mulberry. Ontem planeamos seguir de comboio para a São Francisco. Mas fora uma decisão repentina, pois quando chegamos à Central Station, percebemos que era um disparate e optamos por ficar mais uma noite em Nova Iorque, mas agora neste Hotel.
- Que pena não terem seguido o vosso impulso, talvez a sua mulher ainda estivesse viva, não lhe parece?
O senhor saberá o que é melhor para si, não é suspeito, por enquanto, mas aconselho-o a que não abandone a cidade sem o nosso acordo. E já agora um conselho. Eu conheço o seu Advogado, é pessoa muito influente, mas faça um esforço para se lembrar de alguma coisa que se esqueceu de dizer na sua declaração e que tenha algo a ver com a morte da senhora. E foi ainda mais explícito:
- Eu sei e o senhor também sabe, que a hipótese acidente, não é sustentável. A sua mulher foi assassinada. Admito que não saiba por quem, mas estou certo que saberá porquê. Não cometa o erro de subestimar a Polícia.
Amanhã espero-o pelas 9 horas, para me acompanhar à morgue.
Pedro renovou a reserva no hotel prolongando-a por mais uma semana. Não queria dar a entender que se recusava a cooperar com a Polícia. Mas isso iria acontecer um pouco mais tarde. Para já, não queria mostrar o jogo.
Abriu o computador e foi sem grande surpresa que constatou que o computador tinha sido mexido e possívelmente clonado. Havia sinais e marcas que só ele conhecia que confirmavam a suspeita. Não escondeu um esgar. O amigo jogava na outra equipe. Mas aprendera com especialistas como manter o computador defendido. Habituara-se a guardar toda a informação importante num disco rígido de tamanho reduzido e que transportava escondido dentro do estojo de barbear. O disco que ficava no computador só registava ficheiros sem importância. Quem se dera ao trabalho de clonar o pequeno laptoc, saíra-se mal.
A visita oportuna visita do Richard fora apenas uma farsa. Ele estaria ligado ao atentado. Custava-se a crer, mas na vida que levava tinha que ter muitas cautelas com amigos providenciais.
Iria utilizar a ajuda do amigo, teria o encontro com o responsável do NSA, mas apenas para libertar o corpo de Gabriela e resolver a sua situação com a Polícia. Fingiria não ter mais pedras para jogar.
Mas, logo que estivesse a salvo, faria chegar às mãos do Detective e dum jornal de grande tiragem, um dossier completo, com cópias do contrato, das mensagens, dos pagamentos recebidos e, para sua satisfação pessoal, as identificações de toda a gente que conhecera.
Isso seria o seu xeque-mate.

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