segunda-feira, 9 de maio de 2011

O EXECUTOR

15 – TRAIÇÃO

O assalto foi o ponto de convergência entre dois poderes que Pedro desconhecia. Ele era, apenas, um executor, aprendera a matar mas não se sentia um criminoso. Ele como se fosse um soldado num campo de batalha. Matar para não morrer.
Mas o desenrolar daquela operação, tinha transformado a sua vida.
Como previsto Pedro e Anne tomaram o automóvel, encerraram na bagageira os dois suspeitos capturados e conduziam na direcção da fronteira Italiana. Seguiriam até Génova onde entregariam os prisioneiros e o espólio informático a uma outra equipa da Organização. Eram mais de duas de horas de condução mas, com um bom automóvel e pouco trânsito tudo parecia fácil.
Até que, numa das inúmeras curvas da estrada, o carro foi obrigado a parar por duas viaturas que bloqueavam o caminho. Pedro olhou para a companheira que não mostrou surpresa, e isso inquietou-o. Num segundo, inverteu a marcha para fugir à barragem, mas Anne agarrou-o pelo braço e o carro desgovernado, despenhou-se num pinhal, parando enfeixado numa árvore. O condutor perdeu o conhecimento. Recuperou a consciência já o sol rompia por entre as nuvens do horizonte. Não viu ninguém, nem a companheira. Arrastou-se até à bagageira do automóvel. Estava aberta e vazia. Conseguiu chegar à estrada, estava dorido mas não apresentava ferimentos visíveis, conseguiu uma boleia a um condutor de camião que regressava da Itália, e pediu para ficar na cidade mais próxima. O motorista deixou-o às portas da cidade de “Menton” e seguiu o seu caminho.
Pedro desceu, tomou um táxi e voltou a “Monte Carlo”. Mas não se aproximou do apartamento. Na realidade nada deixara em casa que o pudesse identificar mas, todavia receava que o apartamento estivesse a ser vigiado pela polícia.
Comprou o jornal, sentou-se na esplanada de um café, cheia de turistas e donde poderia ver qualquer movimento anormal.
Tomou o pequeno-almoço enquanto folheava o jornal. Na primeira página o matutino noticiava uma tentativa de assalto a um “yacht” e remetia o assunto para o desenvolvimento na última página.
O jornal ou não sabia tudo ou alguém filtrara a notícia. Porque a notícia apenas falava duma tentativa de assalto, eventualmente por gente do crime organizado. O assalto não teria tido êxito e apenas provocara alarme entre os passageiros que celebravam uma festa, sem que contudo, alguém tivesse sido molestado. Os assaltantes, em número de três, de acordo com os testemunhos obtidos pelo jornalista, haviam fugido numa lancha a motor posteriormente abandonada junto à costa.
A Polícia não prestara declarações e a Empresa proprietária do “yacht” não apresentara queixa. Depois da visita da Polícia científica, o barco fora autorizado a seguir viagem
Uma notícia assim tão sintética era um sinal preocupante. Ele estivera lá, vira dois seguranças abatidos, raptara dois passageiros e era como se nada tivesse acontecido.
Mas não havia dúvidas no seu espírito. Por qualquer razão ele fora apenas um instrumento, um meio para atingir um fim e por isso, a emboscada, o acidente, tudo teria sido pensado para o colocarem fora de circulação.
Fora manipulado e traído, mas não percebia por quem e porquê.
Ali não estava seguro, não sentiu confiança para alugar um carro e abandonar o Principado, pelo que escolheu utilizar um autocarro regular que fazia a carreira para Cannes. Mal chegou, alugou um automóvel, que entregaria em Paris.
Fugiu da auto-estrada e circulou por estradas secundárias até chegar a Lyon.
Entregou a viatura, descartou a hipótese avião ou o TGV para Paris e escolheu em alternativa um comboio regular que circularia durante a noite.
Comprou um bilhete em cabine individual, queria descansar e por ordem nas ideias.
Precisava de chegar a Paris e numa cidade a abarrotar de visitantes, encontrar um lugar sossegado para rever todos os contactos que fizera, encontrar uma brecha, um sinal para entender a armadilha em que tinha caído. Durante a viajem de comboio só um nome lhe vinha à cabeça, “Jezabel”, teria de ser o ponto de partida.
E ao mesmo tempo que se ia recompondo do choque ia, friamente, alimentando a sede de vingança. Fora utilizado e traído. Deixara de acreditar em tudo, na Organização, nos contactos que tinha mantido. Partiria do zero mas haveria de chegar lá, ao centro, à cabeça ao polvo que o envolvera nos seus tentáculos e, nesse dia seria um executor.

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