quinta-feira, 19 de maio de 2011

O EXECUTOR

21 – MORRER EM NOVA IORQUE

Tinham decorrido quase 3 anos após a tragédia do atentado do 11 de Setembro. A cidade fervia de vida, como se procurasse esquecer mais depressa o medo e o sofrimento daquele dia negro. Todavia sentia-se ansiedade e nervosismo, as pessoas andavam mais depressa e ao mesmo tempo atentas às pessoas com que se cruzavam no caminho.
Gabriela que sentia pela primeira vez, a magia daquela cidade, de que se gosta ou não, mas a que ninguém fica indiferente, ficou fascinada.
Pedro, esse já conhecia bem a cidade. Já lá vivera alguns meses frequentando um curso de relações internacionais, integrada num programa de treino para prestar serviços na Nato em Bruxelas.
Levara Gabriela a conhecer Manhattan, visitar museus, galerias, lojas de luxo, e o Central Park de lindas flores, ouvindo o canto das aves e vendo as loucas correrias dos esquilos. Foram ao teatro, ouvir jazz num clube do Harlem, dançar em alguns clubes da moda e Gabriela estava tão feliz.
Durante o curso Pedro passara um semestre bem preenchido, fizera amigos e alguns, até os voltara a encontrar, durante o conflito dos Balcãs.
Com Richard, porventura o amigo mais chegado, tinha aprendido a conhecer a cidade que nunca dorme e com ele mantinha frequentes contactos. Sabia que trabalhava num Departamento em Washington, não sabia qual, mas tinha o telefone e foi para ele que ligou.
Não obteve resposta, foi remetido para a caixa de correio, deixou uma mensagem dizendo que estava em Nova Iorque e que gostaria de o encontrar.
Pedro havia escolhido um hotel fora dos circuitos turísticos, mesmo no meio da confusão da “Chinatown”. Sabia que era mais seguro percorrer as ruas e ruelas, cheias de pequenas lojas e fervilhando de gente. Também porque, quando, no Kosovo encontrara o “Larry Collins”, o seu primeiro contacto com a Organização, ele lhe falara que a Companhia teria a sua sede num discreto prédio de escritórios na zona da “Bowery” muito perto do acesso à Ponte de Brooklyn.
Assim, sem terem de fazer grandes deslocações, orientavam os passeios para a avenida e ruas que conduziam ao acesso à ponte, procurando sinais que os guiassem na busca que faziam. Durante dois ou três dias não saíram daquela zona e, na realidade a sua busca era como procurar uma agulha num palheiro.
Pedro teve que reconhecer que era tempo perdido. Assim é um disparate o que andamos a fazer, confessou.
Gabriela, com um sentido mais prático argumentou:
- Eu não te queria contrariar, mas porque é que tu não mandas um e-mail ao Director de Operações, dizendo que estando aqui, o gostarias de conhecer?
Depois logo vês a reacção!
- Eu já pensei nisso, mas tenho receio que o e-mail que recebi, não tenha sido emitido da Organização, e que o meu contacto vá alertar o emissor. Pode não ter importância, mas aposto que ninguém gostará de saber, que eu ando por aqui à procura duma explicação.
-Pedro, tu não estás a dar importância a uma vaga teoria da conspiração, pois não? Eu não creio que ela exista, mas estando contigo, não tenho medo. Vai em frente, tenta e logo se vê.
Pedro redigiu e enviou a mensagem.
A estratégia teve efeito, nessa mesma noite, o Director de Operações respondeu convidando-o para um encontro no seu gabinete, pelas 22 horas dessa mesma noite. A morada era “Wall Street”, 8 – 6º. F.
Pedro não gostou nem da prontidão da resposta nem da hora.
Vamos mudar de hotel, não podemos facilitar. Quem sabe, nós não vimos nada de suspeito, mas tiramos fotos a edifícios públicos e isso pode ter atraído a atenção de alguém.
Fizeram as malas e deixaram o hotel.
Tomaram um táxi, mandaram seguir para a Estação Central, não notaram nada de anormal durante o trajecto e antes do motorista parar, decidiram regressar à baixa escolhendo o “Millenium Hilton Hotel”, alugando uma suite por uma noite. Era um hotel mais conhecido e ficava bastante perto do local do encontro.
Depois de alojados, Pedro preparou-se o encontro.
Vestiu roupa mais adequada a um turista, blusa larga e colorida, calças de ganga e sapatos de ténis. Na cintura, por baixo da camisola interior, colocou o cinto com uma carteira recheada e o respectivo passaporte. Avisou Gabriela:
- Não quero que te preocupes, mas eu quero chegar ao local do encontro com bastante antecedência. Se vir algo de suspeito, fujo e venho ter ao hotel. Isso pode ser o sinal de que fui localizado e teremos de arranjar a melhor maneira de regressar a Portugal. Se eu não te der notícias até à meia-noite, pegas na nossa bagagem e foge. Muda de hotel, não esperas por mim e regressa a Portugal logo que tiveres ligação. Mais tarde ou mais cedo eu irei ter contigo, prometo.
Gabriela aguardou algum tempo depois da saída de Pedro, e foi também ela para perto do local do encontro. Escondeu-se numa escada de um edifício de onde podia vigiar a entrada de pessoas no endereço indicado.
Viu uma carrinha estacionada na esquina da rua, parecia abandonada, mas alguém estava ao volante, fumando um cigarro e teve medo.
De Pedro nem um sinal, por isso abandonou a correr o seu esconderijo, correu para a porta com o número 8, estava apenas encostada, empurrou e entrou, e accionou uma bomba incendiária que depressa a envolveu. De rastos como uma tocha ardendo, correu para a rua mas era tarde, muito tarde.
Pedro caminhava apressadamente em direcção do hotel quando ouviu o estrondo da explosão. Um pressentimento fê-lo voltar para trás. Chegara ao mesmo tempo que uma viatura dos bombeiros e uma ambulância mas o corpo já jazia inerte no meio da rua, tampado com um lençol branco. Aproximou-se e um Polícia disse-lhe para se afastar, pois a mulher estava carbonizada e nada era possível fazer.
Regressou como um louco ao hotel. O seu pressentimento confirmara-se. Ficou lívido e parado olhando para a camisa de noite estendida sobre a cama. Deitou-se ao lado da camisa vazia e na solidão do quarto, sentiu-se desarmado e vencido. Perdera uma parte de si e chorou de dor.

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