terça-feira, 10 de maio de 2011

O EXECUTOR

16 – VOLTAR A LISBOA

Chegou a Paris, saiu do comboio no meio dos passageiros, caminhou numa rua de sentido único, atento aos carros que passavam, mudou de sentido mais do que uma vez e nunca se apercebeu que estivesse a ser seguido.
Conhecia bem a grande cidade e sabia o local onde iria encontrar um hotel pequeno, que tinha uma localização perfeita. Ficava numa transversal da Avenida dos Campos Elísios, trânsito moderado e de um só sentido. Já lá estivera hospedado mais do que uma vez e lembrava que uma das vantagens era que do último andar, onde gostava de se alojar, poderia saltar para os edifícios contíguos e dali atingir uma rua do lado oposto.
Eram precauções que, mais de uma vez se interrogara quanto à sua necessidade. Agora compreendia que a segurança nunca era demais. Tinha a sensação de que a sua má experiência anterior, fora o resultado de algum facilitismo da sua parte.
A carteira com os documentos e o “IPOD” que conservava no bolso, eram para destruir pois não acreditava que não tivesse sido mexidos e marcados enquanto estivera inconsciente. Retirou o dinheiro, rasgou todos os documentos incluindo cartões de débito e de crédito, que foi espalhando nos contentores de lixo que encontrava. A carteira e o “IPOD” foram lançados ao rio Sena, enquanto atravessava a “Pont Neuf”. Perto do hotel comprou uma mala fim-de-semana, alguns artigos de higiene e reservou um quarto.
Ficara sem documentos e um pouco perdido. Sentia que era em Londres que a traição que fora vítima, teria sido programada. Era ali que teria de começar a deslindar o mistério, começando por localizar e interrogar os operacionais que contratara. Também seria em Londres que poderia encontrar o rasto de “Jezabel”.
Mas voltar aquela cidade, ao seu antigo escritório era um risco. Tinha a certeza que estaria sob vigilância e sob escuta. Quanto mais pensava na operação, mais certeza adquirira que alguém o teria vendido. A própria Organização podia ter servido de capa para camuflar o verdadeiro objectivo. Friamente, recordava que o seu contacto com os supostos traficantes do “Yacht Soleil” tinha sido muito fácil. Diria mesmo que eles estariam à sua espera.
Teriam sido eles próprios a encomendar o trabalho à Organização, para desaparecerem da circulação, talvez por terem traído algum código de conduta ou terem desviado em proveito próprio os milhões da droga que transportavam? Na realidade quanto tentara controlar os movimentos do barco em Palermo, havia gente, muita gente, a vigiar a operação, quem sabe para confirmarem suspeitas?
Faz sentido, pensava Pedro, a Máfia Siciliana deve ter sido enganada e, mais tarde ou mais cedo, iria ajustar contas com quem os roubara. E eles simularam o rapto e, neste momento, escondidos num qualquer recanto longínquo, estariam a longe da vingança. E ele fora o instrumento para o sua tranquilidade.
Pedro tinha que definir o caminho,teria de ser refazendo os seus movimentos, recuperar a sua identidade e aguardar uma oportunidade. Para isso o mais aconselhável era voltar a Lisboa, ao seu escritório, quem sabe Gabriela estaria à sua espera, e recuperar as informações e as chaves de acesso ao seu dossier informático, que guardara no cofre alugado num Banco.
Depois, confirmar todas as coordenadas que possuía, analisar as comunicações e, na pacatez dum escritório incógnito, delinear a estratégia. Precisaria de ajuda, mas em Lisboa tinha amigos com quem poderia contar.
Já sentia saudades da sua velha Lisboa, ansiava por confirmar a espera de Gabriela e foi com o orgulho ferido, mas com o propósito de não desistir, que regressou.

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