sexta-feira, 27 de maio de 2011

O EXECUTOR

27 – REVIVER

Marselha havia sido a primeira paragem que Pedro programara depois de encerrar os assuntos pendentes em Lisboa. Fora para encerrar o escritório do Fundo de Investimento Privado que ali domiciliara, não era difícil pois apesar do nome pomposo e da placa dourada na porta, o fundo apenas tinha tido um cliente, ele mesmo. Ainda assim e com a discrição aconselhável, procedeu à liquidação da firma, cumprindo as suas obrigações contabilísticas e fiscais. Depois transferiu o saldo da canta bancária que encerrou.
Estava à duas semanas na cidade, não lhe era um lugar muito simpático e partiria logo que tudo em ordem.
Ao fim duma tarde de sexta-feira foi até ao porto. Era a hora de mudança de turno dos operadores portuários e os bares nas redondezas, regurgitavam de gente barulhenta e sequiosa. Como fazia frio, os clientes bebiam calvados, uma aguardente de maçã que era muito apreciada naquela região e por cada rodada o barulho aumentava de intensidade. Pedro escolheu aleatoriamente um bar, conseguiu um lugar ao balcão para beber um cognac. Deu uma espreitadela pela clientela e reconheceu o antigo colega Albert. Custou-lhe muito olhar para aquele homem, que era uma sombra dorida. Bastou olhar para ele para perceber que ele havia deixado o álcool e se transferira para a heroína. E arranjar dinheiro para a droga era a sua exclusiva razão de viver.
Cirandava entre as mesas mendigando umas moedas para matar o vício e era escorraçado pelos antigos companheiros. Quando se encontrava perto, Pedro chamou-o pelo nome. Os olhos dele brilharam, finalmente alguém o reconhecera, olhou em redor cheio de esperança mas não percebeu quem o tinha chamado. Pedro fez um sinal e ele aproveitou para pedir ajuda. Não sabia com quem falava, mas nem isso lhe era importante. Segredou que estava doente, tinha frio e fome, estendeu a mão trémula e descarnada a pedir ajuda.
Pedro abriu a carteira tirou duas notas de cem euros e coloco-as na mão estendida.
Albert olhou para aquela fortuna, murmurou agradecimentos e desapareceu.
Ao sair do bar, Pedro não conseguia esquecer aquele momento. Ele sabia que o dinheiro que dera ao amigo não o iria ajudar. Ele compraria mais umas doses de droga e enquanto ela fizesse efeito, ele fugiria do mundo real e entraria no mundo imaginário. Pouco a pouco, dose a dose, chegaria ao fim, abandonado nalguma ruela escura e enrodilhado nos farrapos em que se tornara.
Sacudiu a cabeça, precisava de sair da cidade, respirar ar puro, ver outra gente mas não havia escolhido o caminho.
Tinha um automóvel alugado num rent-a-car internacional, pelo que podia seguir para onde o acaso o levasse. E partiria à aventura.
E de repente lembrou o fascínio de Gabriela pela Itália. Como ela lhe contara o desejo de percorrer e admirar o Lago Maggiore, a Isola Bela e passear nos canais de Veneza. Pedro decidiu reviver o sonho por ela e para ela.

Sem comentários:

Enviar um comentário