quinta-feira, 5 de maio de 2011

O EXECUTOR

13 – CASINO

A montagem da operação custou-lhe muitas horas de trabalho, muita colheita de informação e análise cuidada das fotografias que ele próprio tirou.
Assistiu de longe às manobras de atracagem do navio num lugar afastado na doca do porto de Marselha. Repetiu a observação, sempre de lugar diferente, filmando com tele objectiva todos os momentos da entrada e saída de pessoas.
Durante quatro meses, havia centrado a sua pesquisa no porto de Marselha, e ficou com a certeza que a passagem do “yacht” suspeito obedecia a critérios de periodicidade bem definidos e que as pessoas se movimentavam sem grande preocupação, em termos de segurança.
Veio, quase por acaso, a descobrir porquê.Encontrou um antigo camarada de operações, que trabalhava em Marselha, agora como operador portuário.
Lembrava-se bem daquele companheiro, já na altura viciado na droga e no álcool, razão porque havia sido expulso do exército Francês. Albert, assim se chamava o antigo colega, também reconheceu Pedro e pouco a pouco, copo atrás de copo, foi desfiando a sua memória.
E desatou a língua, comentando que ter sido expulso tinha sido o melhor que lhe tinha acontecido. Arranjara aquele trabalho no porto, era um trabalho leve e sem riscos e com muitas regalias. Aqui, dizia ele depois de bem bebido, o dinheiro enche os bolsos de muita gente, operadores, fiscais, encarregados e muitos Polícias. Toda a gente desviava o olhar para não assistir às movimentações de embarcações ligadas ao narcotráfico. Mesmo a descarga de pequenos contentores, transportados num barco de luxo, para lanchas muito rápidas que rapidamente desapareciam, eram comuns. Depois é só receber o respectivo envelope e gastar nas loucas festas nos cabarets junto ao Porto.
Desiludido com o ambiente em Marselha, Pedro viajou para Palermo para repetir a vigilância. Perdeu tempo e assumiu um risco, pois suspeitou que alguém o teria fotografado e como medida de precaução, regressou no próprio dia, via Roma e dali para o Mónaco, onde decidiu ficar.
Pedro ficara sem dúvidas. Se tentar entrar no “yacht” em Marselha, no meio de tanta gente envolvida era arriscado, Palermo onde admitia ter sido identificado, o risco seria ainda maior.
Restava o Mónaco e era ali que devia centrar a sua atenção.
Alugara um pequeno mas dispendioso apartamento em Monte Carlo, alterou o seu visual e a forma de vestir, apresentando-se por um “playboy”, enriquecido pelos negócios que intermediara no Dubai.
Passou a frequentar os eventos e festas da Sociedade local, onde as pessoas só se reconheciam pelo volume da carteira. E Pedro depressa foi conhecido, procurado com mulheres à procura de aconchego material, ou por investidores bolsistas acenando com o segredo dum grande negócio.
Assistiu à apresentação de um bailado que vira num filme e depois decidiu-se pelo salão de jogos do Casino.
E foi numa mesa de “poker” que viu, pela primeira vez ao vivo, um velho conhecido. Era uma das pessoas fotografadas pela Organização, como sendo o cabecilha da célula e que ele também já apanhara, por mais de uma vez, a desembarcar e embarcar no “yacht Soleil”.
Ganhando e perdendo Pedro investiu tempo e dinheiro para captar a atenção do alvo. E conseguiu. Ele apresentou-se com o nome de “Ali K.”, residente no “Koweit”, e que viajava, quase exclusivamente, para combater o tédio.
Pedro sentia estar no bom caminho. O seu recente amigo simpatizara com ele e convidara-o para uma festa a bordo, com jogo e mulheres. Pedro aceitou e ganhou uma quantia bem interessante, jogando com um jogo fraco, mas com um bluff perfeito. De tal modo que o seu anfitrião o fez prometer uma desforra na próxima oportunidade.
Pedro sorriu, dizendo que jogar com um adversário daquele calibre seria sempre um desafio a que não poderia fugir. Mas, acrescentou, teriam de esperar algum tempo, pois ia viajar para Londres, onde os negócios lhe tomariam cerca de um mês. Olhou para o olhar desagradado do interlocutor, sorriu assegurando que voltaria para lhe dar a prometida desforra. Mas, lembrou que só sabia jogar para ganhar. Perder era palavra que desconhecia.

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