segunda-feira, 4 de julho de 2011

O RAPTO

9 – UM VISITA INESPERADA

Estava entretido a arrumar alguns dossiers, quando o telefone interno tocou. A telefonista perguntou se podia mandar subir um cavalheiro que se encontrava muito inquieto e agitado e insistia em falar com ele. Como não tinha nada agendado para a manhã, deu ordens para subir.
Abriu a porta do escritório e mandou entrar o homem impaciente. Era um jovem, da casa dos trinta anos, com aspecto muito cuidado, com uma boa figura a lembrar os galãs de telenovela. Mal se deixou cair na cadeira começou imediatamente a falar:
- Tenho uma vida muito ocupada e não posso perder tempo com conversa inútil, diz o desconhecido. Quero que me diga, que mentiras a Maria Clara lhe veio contar, ontem à tarde. Não negue, porque ela própria me disse, que esteve consigo.
- Meu caro amigo, os assuntos que trato com os meus clientes são confidenciais. Se tem algo para contar relacionado com o caso faça-o, de contrário a porta de saída é aquela por onde entrou.
- Fique sabendo que eu não receio um detective de meia tigela, por isso a sua observação não me afecta. Aviso-o, para seu bem, não deve meter-se em assuntos para onde não é chamado, pode dar-se mal. Ainda lhe digo mais, qualquer coisa que a Maria Clara lhe tenha contado, não passa de uma invenção.
- Repare bem como eu estou a tremer, deve ser das suas ameaças, responde António. Levantou-se da cadeira aproximou-se do desconhecido, pegou-lhe pela gravata, levou-o à saída e em jeito de despedida, segredou-lhe ao ouvido: - Já tratei com homens violentos, criminosos e assassinos e nunca tive medo. Achas que um idiota qualquer armado em esperto me vai assustar?
Ponha-se no meio da rua, antes que o corra a pontapé, mas olha bem para mim, penso que ainda nos vamos encontrar. Mas será quando eu quiser.
Resmungando o desconhecido abriu a porta do elevador e saiu.
Sentado à secretária António procurava esquematizar as ligações entre a desaparecida e as pessoas que já conhecera. A Mãe, Artur e agora um rufião que parecia ser um prostituto.
O que é que um homem como este terá a ver com o desaparecimento de Carolina? Ele mostrou que conhecia a Mara Clara. Palpita-me que o assunto ou é muito mais complicado do que eu previa ou estarei a ser objecto de uma mistificação ensaiada entre os três intervenientes. A ser assim, o móbil do rapto só pode ser dinheiro.
Respirou fundo, alinhavou algumas questões para esclarecer na entrevista da tarde.
Entretanto recebeu um possível cliente. Uma senhora de cabelos brancos mas de olhar desperto, que o desafiou para investigar uma questão familiar, que ela considerava algo estranha.
António concordou e escreveu na agenda uma entrevista para o dia seguinte pelas onze horas da manhã, mas em casa da cliente, Dona Julieta, cuja morada também anotara.
Saiu para almoçar. Voltou ao trabalho pois queria preparar a entrevista marcada para as duas da tarde.
Passavam poucos minutos, quando a recepcionista ligou, avisando da chegada da cliente. Deixou tocar por duas ou três vezes a campainha do gabinete, velha técnica para enervar a outra parte. A sua experiência ensinara-lhe que a ansiedade era o melhor amigo do investigador.
Maria Clara entrou, cumprimentou com um aperto de mão, e sentando-se na cadeira de braços, que o investigador lhe apontou, cruzou as pernas num movimento amplo e sugestivo. Aqui estou eu Doutor, como tínhamos combinado trago o questionário preenchido, e este envelope, com meia dúzia de fotos, recentes, da minha filha.
António Pedro recebeu os documentos, colocou-os na secretária sem abrir o sobrescrito.
Fixando-a, sugeriu que tirasse os óculos escuros, pois gostava de ver os olhos das pessoas com quem falava. Desculpará, mas é um hábito já antigo e que não perdi. Os olhos podem dar respostas diferentes das palavras.
Maria Clara hesitou e pediu para continuar com os óculos. Sabe, sinto-me mais à vontade, porque não tive tempo, nem disposição, para me maquilhar.
António encolheu os ombros, e abriu o envelope das fotos que espalhou na secretária.

Sem comentários:

Enviar um comentário