quarta-feira, 13 de julho de 2011

O RAPTO

16 – LAGRIMAS E SUSPIROS

Maria Clara suspirou, e com os olhos no chão, começou a falar:
- No dia seguinte, sábado, recebi uma chamada de um número não identificado. Ia desligar mas uma voz que reconheci, fez-me a ameaça, dizendo:
- Minha amiga aqui na minha frente estão os seus documentos que com o entusiasmo da sua paixão esqueceu sobre a cama. Também uma colecção de fotografias, muito expressivas que lhe tirei quando você suspirava de êxtase. Gosto mesmo muito delas mas…
Preciso de dinheiro e já tenho pessoas interessadas. Você tem prioridade mas só por hoje. Arranje um envelope, coloque lá vinte mil euros eu faço a recolha e entrego-lhe as fotografias.
Foi um choque, como calcula, embora já estivesse à espera de algo no género. Respondi que estava de acordo, mas sendo sábado, onde é que eu ia arranjar tanto dinheiro? Ele riu-se, e respondeu que sabia muito bem, que o Banco com que eu trabalhava, estava aberto ao sábado, no Centro Comercial Colombo. Uma cliente como a senhora, não vai ter problemas, em levantar esta importância. Mas se não se quiser maçar, tudo bem, vou vender as fotos às revistas de pornografia e ainda ganho dinheiro. Até posso guardar uma ou duas, das que gosto mais. Passarei no seu consultório às 18 horas, esteja à porta, com o envelope nas mãos. Irei de carro, fazemos a troca e tudo fica entre nós. Depois desligou.
Não tinha ninguém a quem pudesse pedir ajuda e até tinha vergonha de o fazer. Fui a correr ao Banco, o gerente é um velho conhecido. Não fez muitas perguntas, mas tive de aguardar a chegada da carrinha de transporte de valores para receber o dinheiro. O Doutor Francisco, o gerente, só me recomendou que visse bem o que estava a fazer. Eu não respondi, fui a correr para a porta do consultório e aguardei. Á hora combinada um carro parou à minha beira, tirou-me o envelope, lançou ao chão um embrulho e desapareceu.
Parou e por breves instantes levantou os olhos para o Detective como a pedir ajuda ou avaliar o impacto das suas palavras.
Todavia, António Pedro não deixou transparecer qualquer emoção.
E Maria Clara continuou. Agora com a voz mais tremida:
Domingo, saí para espairecer um pouco. Fui andar, deixando que o vento me acalmasse a angústia e a vergonha.
Quando entrei em casa a minha filha contou-me que tinha lá estado um rapaz, deixado um envelope para mim, que ela havia colocado na cómoda do meu quarto. O envelope, aberto, continha mais fotos e um bilhete dizendo que o preço tinha subido. Exigia mais 50 mil euros pelas restantes, a pagar da mesma forma. Não tinha dinheiro mas o que mais me doeu foi a tristeza que vi nos olhos de Carolina. Tive a certeza, ela vira as fotos.
- Por acaso, a Doutora não tem consigo o bilhete a pedir os 50 000 Euros?
- Não, fiquei de tal maneira transtornada, que o rasguei, juntamente com as fotos.
- Percebo a sua raiva e a seguir?
- No dia seguinte, segunda feira, e depois de Carolina sair na carrinha para o colégio, liguei para o meu Pai e contei-lhe que uma imprudência da minha parte, me fizera cair nas mãos de um chantagista, e que para me libertar, precisava de ajuda financeira, de 50 000 Euros. Para além do apoio moral, que eu esperava receber, queria que ele assinasse comigo, um levantamento de dinheiro da conta da minha filha, para que pudesse comprar as fotos todas de uma vez. O meu Pai chamou-me um nome, que recuso pronunciar, disse que não assinaria nem para um cêntimo. Que fosse à Polícia, assumisse o meu erro, pagasse por ele e desligou-me o telefone.
- A Doutora acha que se o seu Pai visse o bilhete reagiria da mesma maneira?
- Conhecendo meu Pai, com ou sem bilhete a resposta seria a mesma.
Carolina não voltou para casa. Recorri às amigas que conhecia mas todas disseram que ela saíra do colégio na carrinha e descera perto de casa. Não sabiam mais nada.
Tentei os hospitais, admitindo um acidente mas sem resultado. A minha filha, simplesmente desaparecera sem deixar rasto.
Fiquei só, sem apoio de ninguém e o meu própria Pai recusara ajuda. Depois de almoço, fui à PJ apresentar queixa pelo desaparecimento. Disseram-me que provavelmente seria algum arrufo de namaorados e que ela voltaria. A maior parte dos casos era assim, pelo que era melhor esperar dois ou três dias. Foi ao verem a minha desilusão que me sugeriram o seu nome e endereço para seguir o caso.
Como se lembra, no dia seguinte de manhã, estive no seu gabinete a pedir ajuda.
Quando pela tarde regressei a casa, escondido no jardim, estava o chantagista a exigir o dinheiro que eu não tinha. Assustei-me e acusei-o do desaparecimento da minha filha, disse-lhe que a Polícia sabia do sucedido e referi também o seu nome. Foi quando ele me agrediu, fugindo de seguida.

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