terça-feira, 19 de julho de 2011

O RAPTO

22 – UM HOMEM E UMA MULHER

Carlos já estava no gabinete quando António Pedro entrou. Estava sorridente e eufórico. Olhe chefe, o Edmundo assinalou a mesma pessoa. Valeu a pena confiar nele, acho que a confirmação o vai ajudar, não acha?
- António Pedro olhou as fotografias assinaladas e não expressou qualquer surpresa.
Carlos ficou estupefacto e interrogou:
- Chefe, o senhor conhece a pessoa não é verdade? É um colega?
- Sim conheço e não só é um colega, é um amigo. Mas para te ser sincero tinha uma secreta esperança de estar enganado. Infelizmente não estava.
Vou precisar de ti. Quero que ajudes o Edmundo a sair e depois te prepares para vigiar esta morada, escreveu num papel. No terceiro andar desse prédio morava ou mora o Polícia que o Edmundo identificou. Presta atenção, ele é muito experiente e não pode sentir que o conheces. Se o vires entrar ou sair liga-me. Presta atenção redobrada à possibilidade de ele ser acompanhado por uma miúda com 12 anos de idade.
Tens de ser muito discreto, não facilites.
-Chefe fique descansado. O Edmundo tem o passaporte com a sua verdadeira identidade e tem dinheiro suficiente. Ele já me deu a morada do irmão em França onde se vai instalar e virá sempre que o Chefe queira. Por isso numa hora acerto tudo com ele e sigo para a vigilância. Para me movimentar vou pedir a ajuda do meu Pai, ele tem um carro pequeno mas muito bem conservado. Ele vai quer ir comigo, mas penso que será bom para me ajudar.
- Óptimo, faz como entenderes, mas não corras riscos desnecessários.
Carlos acabava de sair quando ligaram da recepção avisando que a Dr.ª Maria Clara pedia para a receber. Deu o sim e esperou.
Estava serena, no rosto apresentava alguns sinais de inquietação que os olhos com um brilho tão intenso pareciam desmentir.
Abriu a mala, tirou um cigarro que António Pedro lhe acendeu. Quando se olharam tão de perto António sentiu um apelo, uma promessa e ficou de tal forma fascinado que se distraiu e deixou que o fósforo lhe queimasse os dedos. Sacudiu-os nervosamente mas aquela situação mereceu um comentário irónico, de Maria Clara:
- Não me diga Doutor, está outra vez tão nervoso e cansado como estava ontem em minha casa! Diga-me sou eu que lhe faço assim tanto mal?
- Que ideia, balbuciou, estava apenas preocupado. E não deveria estar?
- Por favor Doutor não brinque com os meus sentimentos. Não escondo que a sua companhia me faz bem e me estimula mas não esqueci nem por um momento que, algures está a minha filha a precisar de ajuda. Mas se eu me esconder num canto a chorar, acha que ela voltará mais depressa?
António Pedro não respondeu mas sentiu que mais uma vez era ela que comandava as operações. E sentiu a sua fraqueza, Maria Clara já disso se tinha apercebido e jogava ao ataque. Limpou os pensamentos e concentrou-se no assunto principal. O rapto de Carolina.
- Diga-me Doutora o que pensa fazer sobre o resgate?
- Eu acho que não posso fazer outra coisa que não seja pagar. E conto consigo para isso. Pessoalmente não tenho disponibilidades para arranjar o montante exigido, mas existe um fundo em nome da Carolina, num montante que excede em muito o pedido e que pode ser mobilizado. Mas carece dum pedido meu, isso não é problema, mas do aval de meu Pai que é o curador desse mesmo fundo. Como já lhe disse o meu Pai fará tudo para resgatar a neta mas só com a garantia dada por alguém em quem confie, e o senhor será essa pessoa.
Pode interpretar como quiser a minha calma, mas acredite, só a mantenho porque acredito cegamente em si e sei que não me irá desiludir e tudo fará para me trazer sã e salva a minha filha.
- Doutora estive a olhar com muito cuidado o pedido de resgate. Não o papel que não é importante mas sim a fotografia. Sabe o que me espanta? Pela primeira vez vejo uma imagem sorridente de Carolina. Só posso ter uma leitura, ela não estava assustada e até parecia divertida com a situação!
Maria Clara hesitou, olhou de novo a fotografia, comparou com outras que trazia na carteira e por fim concordou ainda que com alguma relutância. Todavia acrescentou:
- O riso não me parece assim tão natural, talvez ele seja um retoque feito por qualquer especialista, só para me tranquilizar.
- Desculpe Doutora retocar uma fotografia para obter um sorriso de felicidade não cabe da cabeça de qualquer raptor por mais ingénuo que ele seja. Se fosse ao contrário faria sentido.
A minha posição é outra. Carolina quando tirou a fotografia estava acompanhada por alguém que ela conhecia e em quem tinha confiança. Talvez a Doutora imagine quem possa ser!
Mas não importa. Fale com o seu Pai e se ele quiser sabe onde me encontrar. Não se preocupe com o tempo exigido. Se o raptor falar, diga apenas que que precisa de mais tempo para arranjar o dinheiro. Implore e chore.Não vai ser difícil representar esse papel pois não?
- Farei com diz. Acho que o senhor na verdade não me conhece. Tenho pena, acredite do fundo do coração, eu sou capaz de dar tudo por quem amo.
Convide-me para jantar, eu terei muito prazer na sua companhia. Gosto muito de comida Japonesa e há um restaurante que gosto muito no começo da Avenida José Malhoa. O nome não sei mas será fácil de encontrar. Que me diz?
- Parece um pouco insólito ser você, desculpe, ser a Doutora a sugerir o encontro. Mas aceito, vou ver o nome do restaurante e farei uma reserva para as 21 horas.
- Gostei de o ouvir dizer você, obrigada e não esquecerei o nosso jantar.


Sem comentários:

Enviar um comentário