quarta-feira, 6 de julho de 2011

O RAPTO

11 – A MULHER DE VERMELHO

Ficaram em silêncio durante uns breves momentos. Para Maria Clara, aqueles breves segundos em que exibira os sinais da agressão deram-lhe o alívio e tempo para retomar o domínio da situação. E foi incisiva no contra-ataque:
- Aqui tem, está agora convencido que eu estou a dizer a verdade, ou ainda pensa que o indivíduo que o visitou é o meu homem, como insinuou. Doutor, faça-me a justiça de não me considerar masoquista e de, ao menos, ter um certo bom gosto.
E em jeito de desafio, ostensivamente voltou a cruzar as pernas.
António pediu a Maria Clara para recolocar os óculos confirmando:
- Como eu calculava foi agredida e imagino por quem. Mas o que tem de explicar é o porquê?
- Está bem, vou contar-lhe o que me aconteceu. Não é uma história de que me orgulhe, por isso espero que compreenda o meu embaraço.
Na passada Sexta-feira, fui convidada para uma festa de despedida de solteira de uma colega e amiga. Avisada de que a festa podia acabar tarde, pedi à empregada que, nessa noite, ficasse lá em casa fazendo companhia à minha filha.
Assim foi feito e a minha filha até comentou:
- Oh Mãe põe-te bonita pois és capaz de arranjar algum namorado.
Ri-me e confesso que fui um pouco ousada no vestido que escolhi. Fui buscar um que já não usava há vários anos, vermelho e com um decote generoso.
Eu não sabia como era a festa para que fora convidada, nem que seria reservada a mulheres. Mas foi assim e depois de muita conversa, algumas bebidas e enquanto a noite avançava o álcool ia soltando a língua e a imaginação. Contavam-se histórias de conquistas amorosas, de decepções sentimentais e até de frustrações sexuais. A Rita, casadoira, pediu um pouco de silêncio e disse:
- Apesar de tudo os homens fazem falta. Olho e não vejo nenhum. Temos de colmatar esta falha. Vamos a um clube que me recomendaram e que tem striptease masculino.
E assim lá fomos. Durante bastante tempo senti-me incomodada com o espectáculo, principalmente, quando a numerosa assistência feminina, aplaudindo os dois artistas em palco, gritava tira, tira tudo. Levantei-me do meu lugar e fui à toilette dar uns retoques. Sob o efeito da bebida tropecei e fui amparada por um homem simpático que se mostrou muito gentil. Discretamente, ajudou a levantar-me e fez-me companhia durante o resto da noite. Dançamos, rimos e sem saber como, acabamos num hotel na Av. José Malhoa. No quarto tomei mais uma bebida que ele me preparou e não me lembro de mais nada.
Acordei com o sol já alto. Estava sozinha, desnudada e apenas tapada com um lençol. Todavia, espalhadas pelo quarto estavam as minhas roupas. Vesti-me à pressa, peguei na mala de mão, saí do hotel, evitando olhar o recepcionista. Sentia vergonha e o receio de ser reconhecida. Afastei-me um pouco, apanhei um táxi que passava e voltei para casa.
Durante o percurso, abri a mala e verifiquei que as chaves de casa tinham desaparecido, e que a carteira dos documentos também. Contudo o dinheiro, não parecia não ter sido mexido, ou pelo menos de tal não me apercebi.
Evitei ver a minha filha que estava a ler num canto do jardim. Tive vergonha e medo que ela me fizesse alguma pergunta embaraçosa. Subi ao meu quarto, tomei um duche rápido, mudei de roupa e só depois fui ter com ela. Carolina deu-me um beijo e um abraço muito prolongado. Senti naquele abraço e no silêncio que se seguiu a premonição que a minha imprudente aventura iria ter consequências desagradáveis.

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