sexta-feira, 29 de julho de 2011

O RAPTO

29 – CAPITULO FINAL

A história chegara ao fim. Uma história verídica cheia de amargura, desencontros, desilusões, sofrimento e que terminara com a morte trágica de um dos actores. Porém não fora uma peça de teatro, foram vidas vividas.
António tinha fechado o livro, nada mais havia para dizer. E foi assim que abandonou a sala e seguido pelos amigos e voltou para o gabinete.
- Agora peço para que me deixem só. Estou cansado, é verdade, triste e magoado, também, mas serei eu quem tem de arrumar as ideias, esquecer as imagens, apagar as chamas do fogo que quase me destruiu. Amanhã será um novo dia.
Fez um intervalo, fumou mais um ou dois cigarros. Sentia que de algum modo o fumo que inalava lhe causava torpor e desprendimento. Estava sereno quando decidiu espalhar pela secretária os papéis, fotografias e filmes que guardara no cofre e que estavam ligados ao caso que agora encerrara. Rasgou e destruiu tudo. Mas por ironia do destino, uma fotografia caíra no chão. Pegou nela e ficou paralisado. Maria Clara, nua deitada numa cama do hotel. Afinal os seus fantasmas não tinham desaparecido, ele sentiu que Maria Clara sorria só para ele.
Não se sentia bem. Precisava absolutamente de respirar, de se livrar do passado, esquecer, esquecer...
Abandonou o escritório, já era escuro, começou a andar sem destino. Apagara uma parte do passado e agora teria de encontrar o caminho do futuro.
Perdeu o norte, andava como um sonâmbulo. Na ruas que ia percorrendo não via pessoas, só sombras difusas e que nada lha diziam. Tropeçou, caiu e alguém lhe estendeu a mão e o ajudou a levantar, nem viu quem. Prosseguia a sua caminhada, andando algumas vezes no meio das ruas, mas nem as buzinas e insultos dos condutores o faziam desviar do caminho. Um homem que o seguia com o rosto lavado em lágrimas, ia tentando e conseguiu retirá-lo do meio do trânsito. Mas não mais do que isso, pois uma tentativa de ajuda, era repelida com brusquidão. Olhava o homem que lhe estendera a mão, era um desconhecido. Andou horas e guiado por uma qualquer força parou, não tinha força para mais. Sentou-se nos degraus e num acto reflexo pegou no telemóvel marcou uma tecla mas deixou cair o aparelho. Assim ficou, tombado tremendo de frio. Só os olhos teimosamente não se fechavam.
Carlos, era ele a sombra protectora, pegou no telemóvel caído e viu marcada a tecla 1. Tentou ligar e surgiu no ecrã o nome, Filomena. Carlos não sabia quem era, mas tentou. Ouviu do outro lado uma voz perguntar?
- António passa-se alguma coisa?
Foi Carlos que respondeu:
- Minha senhora, desculpe eu sou o Carlos amigo do Doutor António. Ele está muito desorientado, perdido e caído nos degraus duma casa aqui algures, perto da Avenida de Roma. Quando saiu do escritório, eu segui-o mas sem ele saber. Está cada vez mais desorientado, caiu inúmeras vezes e quando o ajudava olhava para mim como se nunca me tivesse visto. Foram mais de três horas que o trouxeram a este lugar. Aqui está caído, sem pronunciar uma só palavra. Foi ele que quis ligar, só conseguiu um número, depois perdeu-se. Só pude ver que ele escolhera a tecla 1 mas não teve forças para continuar. Fui eu que completei a ligação.
-Fez bem eu sou a mulher, ele tentou voltar para a nossa casa.
Por favor, fique com ele, não o deixe fugir, eu estarei aí dentro de dez minutos.
Um táxi parou junto da porta, com um forte chiar de pneus. Filomena saiu, correndo do carro, aproximou-se, olhou para aquele vulto tombado sobre um dos lados, sem se mexer e com os olhos vidrados. Sentado a seu lado, um homem utilizava o casaco para aconchegara o corpo caído.
Obrigada Carlos, ajuda-me e levá-lo para casa, porque sozinha sinto não ter forças.
Meu Deus António porque não ligaste? Mas vieste à minha procura. Com os olhos rasos de lágrimas pega no braço e murmurou-lhe ao ouvido.:
- Ajuda-me é só mais um pequeno esforço, estamos na nossa casa, quero-te muito tu sabes!
Pegou-lhe numa mão fria como gelo, enquanto Carlos o conseguia manter de pé e lhe guiava os passos até entrarem em casa.
- Vamos deitá-lo, ajude a tirar a roupa molhada. Abriu a cama Carlos pegou nele e com a força que nem sabia ter, meteu-o dentro da cama.
Filomena mediu a temperatura, tinha febre, verificou a tensão arterial, estava baixa. Deu-lhe um comprimido, sentou-se na beira, acariciando os cabelos e pegando na mão. Pouco a pouco o tremor deu lugar à tranquilidade e à calma, o rosto ganhou cor e António adormeceu.
Filomena aproximou-se de Carlos, deu-lhe um abraço dizendo:
- Felizes daqueles que têm amigos como tu. Obrigada do fundo do coração.
Creio que o meu marido está apenas esgotado e depressa recuperará.
Agora vou preparar um café fraquinho, acho que ambos precisamos, depois siga para sua casa, amanhã será outro dia.
Filomena ficou sentada à cabeceira da cama, mas pouco tempo depois sorriu, tirou a roupa e deitou-se agarrada, ao corpo do marido.

FIM

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