quinta-feira, 14 de julho de 2011

O RAPTO

17 - SEXO MENTIRAS E VÍDEOS

- Doutora, acha que o seu pai também teria recebido fotos e o pedido de resgate pela sua filha?
- Não creio. Os meus Pais são muito frios comigo mas adoram a neta. Se lhes tivessem pedido qualquer coisa para resgatar a menina tê-lo-iam feito.
- Desculpe a pergunta, a senhora conhecia bem a sua filha? Ela teria algum comportamento ou hábito que pudesse explicar o seu desaparecimento?
- Sonhava vir a ser escritora. Tinha um bloco onde anotava factos ou curiosidades. Mostrou-mo algumas vezes e pelo que li, nem sequer se podia chamar um diário. Mas escrevia pequenas frases ou fazia desenhos, que para ela tinham algum significado. Por exemplo se saía e eu não estava em casa, deixava uma pequena nota escrita ou um desenho relacionado, tipo charada, que colava na porta do frigorífico. Eu conseguia saber o local, apenas e só, se decifrasse o enigma.
- É uma maneira interessante, de comunicar, por enigmas. A Doutora acha isso normal entre uma Mãe e uma filha de 12 anos? Não estamos a falar de uma criança, estamos a falar de uma jovem numa idade problemática! A Doutora não se terá esquecido que tinha uma filha adolescente e que eventualmente precisaria de conselhos e orientação? Não estranhou o que o seu Pai tenha recusado ajuda? O que é que ele saberia, a senhora sabe e me escondeu?
Maria Clara estava agora mais vulnerável, António apercebeu-se da situação e continuou:
- Dada a ausência de uma cumplicidade entre Mãe e Filha, não enjeita que ela tivesse recorrido a outras pessoas para obter resposta às suas dúvidas?
- Afinal na sua opinião Carolina fugiu desiludida com o seu comportamento ou foi raptada?
Maria Clara abanou a cabeça e respondeu:
- Doutor, eu vim procurar a sua ajuda para encontrar a minha filha desaparecida, e não para receber lições sobre a educação dos jovens. Desculpe que lhe diga, não me parece a pessoa mais indicada para me dar lições de comportamento.
Enfrentou sem pestanejar o interlocutor e, mais uma vez, cruzou as pernas, de forma desafiante.
- Doutora não percebo o seu desagrado pelas perguntas que formulei e que mostram a minha perplexidade e a minha convicção que a senhora apenas me contou uma história? E confesso, nem sei se é a sua história ou se ela foi encomendada!
Maria Clara como que ignorou a observação e respondeu à pergunta de António:
- Carolina, tinha amigos e amigas. Mas não a vejo a partilhar segredos. E se o fizesse, certamente que, algum deles já me teria dito algo.
- Ainda em vida do meu marido passávamos as férias de verão numa casa em Vilamoura. Ganhamos amizades e Carolina também tinha amigos da mesma idade com quem ia à praia.
Mas eram amizades de férias, normalmente com estrangeiros, que voltavam ao seu País. Alguns voltavam no ano seguinte e era agradável revê-los.
Depois da morte do meu marido fomos alguns dias de férias para casa dos meus Pais. Não correram muito bem. Por isso em Agosto passado decidimos retomar o hábito de férias em Vilamoura. Mas não foi a mesma coisa. Dos conhecidos de antigamente, não encontrámos nenhum. A minha filha, foi bater à porta de uma das vivendas próximas, procurando por duas amigas com quem mais privara. Já não as encontrou. Decidimos que para nós, aquele local já não fazia sentido. Partimos mesmo antes de terminar o período de aluguer.
- Doutora Maria Clara, por hoje ficamos por aqui e faça-me chegar, o endereço da agência que lhe alugava a casa. Talvez me interesse.
- Porém antes de sair tenho algo para lhe dizer e desta vez não será desagradável. Não precisa de se preocupar com o chantagista e com as fotografias e os vídeos. Esse assunto acabou.


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