domingo, 24 de julho de 2011

O RAPTO

25 – UM LONGO DIA

António Pedro chegou. Tinha um brilho estranho no olhar, uma mescla de cansaço, amargura e determinação. Carlos e o Pai estavam parados numa das avenidas de Vilamoura que dava acesso à entrada a quem conduzia de Lisboa, tendo tido o cuidado de dissimular o pequeno carro atrás de uns arbustos.
Conseguiam ver os carros para entrarem e saírem da zona. Todavia, como Carlos admitiu, só por sorte iriam encontrar os alvos. Tinham dormitado um de cada vez, mas com as matrículas dos carros suspeitos bem presentes.
- Vocês precisam de comer, sigam para o centro e vamos estacionar mas em lugar afastado. Pode ser que encontrem uma pastelaria já aberta, recomendou António Pedro.
- Chefe hoje é domingo, são nove horas da manhã, não temos notado muito movimento, o que é que podemos fazer? Estamos às escuras?
- Tens razão mas sinto que estamos no local certo. Não sei o que podemos fazer, apenas abrir os olhos, aguçar os ouvidos e pedir sorte. Enquanto vocês comem eu vou dar uma volta pela marina. Palpita-me que ainda sou capaz de encontrar noctívagos a recuperar da noite de sábado. Com sorte poderá ser uma pessoa que goste de falar. Entretanto vocês procurem uma farmácia de serviço. Quero que comprem uma caixa de luvas, outra de máscaras para a boca e nariz e mais dois rolos de adesivo, o mais largo que encontrarem. É uma precaução, podemos vir a precisar desse material.
Afonso, o Pai do Carlos riu comentando:
- Doutor vai assaltar uma casa ou…?
- Não sei ainda mas é melhor prevenir. Fica combinado que nos encontraremos num café na marina. Não sei qual, quem chegar primeiro dá um toque.
- Oh Chefe porque é que o senhor não aproveita a nossa companhia para tomar um bom pequeno-almoço? Desculpe mas o seu aspecto é de quem não se tem alimentado. E só o oiço falar de café e só o vejo fumar. Enquanto aqui está, sabe quantos cigarros já fumou? Não sabe pois não, mas eu digo, foram seis em menos de meia hora. Onde é que isso o vai levar?
- É certo que tem sido um tempo cheio de emoções, desafios, desilusões e muita frustração. E isso tem o seu preço, eu sei.
Hoje tem sido um dia particularmente longo,vazio e uma noite sem fim. Tens razão, preciso de parar e reflectir. Vou fazer-vos companhia, sigamos à procura de uma pastelaria ou um café aberto onde possamos retemperar as energias. Chegamos aqui, mas continuamos às escuras, procurando nem sei já o quê!
Encontraram um pequeno café. Era simpático e àquela hora tinha meia dúzia de clientes, frequentadores habituais e conversadores entre si. Mas que se calaram logo que viram entrar três estranhos.
António Pedro pensou para si que os casais que estavam no café, poderiam estar a dizer algo que só a eles dizia respeito ou a presença de estranhos os levara a serem prudentes.
Certo que praticamente só trocavam breves palavras. Mas assim que terminado pequeno-almoço e os três visitantes abandonaram o café, os puderam ouvir retomando a conversa que tinham interrompido.
Afonso ainda percebeu que eles discutiam a insegurança durante a noite.
Carlos e o Pai foram caminhando a pé, sem destino mas acabaram sentados numa esplanada na marina bem em frente aos barcos nela ancorados.
António Pedro seguiu outro caminho, perdido, sem destino. Sentou-se num banco de jardim a ver passar os poucos carros que circulavam. Era uma manhã de domingo, as ruas estavam quase desertas e na monotonia daquela manhã onde o sol já abrira, fechou os olhos e descansou.
Saiu do torpor com o som duma chamada no telemóvel. Era o que Carlos que com voz ansiosa lhe pedia para se juntar na esplanada da marina. Não demore penso que temos novidades.
António Pedro chegou, tinha recuperado algum vigor e sentando-se na mesa com os amigos perguntou:
- Conta lá as novidades.
- Chefe sente-se aqui um bocado. Eu sempre sonhei ter um barco igual a alguns que aqui estão, e poder passar a vida a apanhar sol e a pescar. O meu Pai, pelo contrário gosta mais do campo e trabalhar a terra onde nasceu.
- Mas a novidade é isso?
- Ai chefe não seja assim. Contei isto para lhe explicar a minha fascinação pelos barcos que aqui vejo. Porque, foi por tanto os admirar que descobri o que pode ser o fio da nossa meada.
- Antes de continuares, já compraram o que vos pedi?
- Não foi difícil, mostraram um saco, ali mesmo ao lado está uma farmácia de serviço.
- Então agora conta lá o que descobriste!
Carlos explicou que a sua atenção se centrara num barco bem grande que estava na primeira fila do cais. Notara algo diferente, só naquele via um homem corpulento, sentado na proa do barco enquanto bebia cerveja atrás de cerveja.
Ficara ainda mais atento, porque o desconhecido se levantara da cadeira, espreitou para o interior da cabine, fechou a porta e saíra para o exterior da marina. Chefe veja a minha surpresa, quando ele passou aqui ao lado eu reconheci-o, era um dos seguranças que ontem à noite esteve envolvido no rapto do seu amigo.
Enquanto ele esteve ausente fui dar uma espreitada. O barco chama-se MAR BELO e está matriculado em Algeciras.
O segurança voltou carregado com compras de super mercado, abriu a porta da cabine, entrou por breves momentos e ali está ele, refastelado a beber cerveja. O Chefe consegue ver?
- Sim vi.Sorriu e não se conteve, deu uma palmada no ombro do companheiro dizendo:
- Eu tinha ou não razão quando te fui buscar para trabalhar comigo? Senhor Afonso tem que ficar orgulhoso porque o seu filho é um jovem destemido e muito inteligente! Agora vamos sair daqui e depois de almoço, tentamos assaltar o barco. Eu vou estudar a nossa estratégia. Podemos estar no final de um dia longo,mas com o coração apertado, pois receio uma surpresa. E pode ser dolorosa, oxalá eu me engane.

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