quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

DUETO IMPREVISTO










VIOLINO

"Andante"

Hoje, primeiro fim de semana de Setembro, recomeçara a acariciar, afinar e finalmente tocar alguns acordes de violino.
Porém estava inquieto, demasiado, não se concentrava e por isso resolveu parar de tocar. Hoje não dá, Paganini, amanhã vamos tentar, está bem? E o cão abanava a cauda.
Ricardo Ferreira era Inspector da Polícia Judiciária, no activo. Sempre gostara do que fazia e entendia que não podia ter tido outra ocupação. Nos momentos difíceis, que também tivera e quando se sentia mais perdido, a mulher sugeria-lhe que deixasse a Polícia e seguisse outro caminho. Mas ele sempre recusara e dizia que sair seria como perder um pouco da sua vida.
Mas hoje, trinta anos após, sentia-se mal, verdadeiramente mal. Não era o sabor amargo do fracasso mas era algo parecido com a derrota por meios escusos. Sim fora vencido e mandado estar quieto, disso não tinha dúvidas. Voltar era doloroso e nunca sentira aquele desconforto de ir fazer um trabalho em que já não se acredita. Precisava de repensar a vida.
A última gota, aquela que mais o ferira deu-se num final de Julho. Quando voltasse iria deixar de se ocupar com o trabalho para que tinha sido escolhido no principio do ano.
Seis meses, foi quando durou o que, com toda força, lhe tido sido pedido.
Quando as autoridades competentes, decidiram começar a combater o crime financeiro, um assunto muito delicado, por ser associado a muita gente poderosa, empresários, políticos, advogados e até mesmo instituições de crédito, a polícia precisava de alguém para arrancar com o projecto.
O Director Nacional, não teve dúvidas que Ricardo era a pessoa certa para o lugar.
Foi assim que, no início de 2007, o inspector Ricardo Ferreira assumiu as funções de chefia.
O mundo da finança não lhe era inteiramente estranho. Sabia que em Portugal a corrupção começa com o lançamento de uma empreitada pública. A propósito de um grande projecto, recentemente anunciado nos jornais, Ricardo preocupou-se em seguir os movimentos dos estados maiores das grandes empresas, pois sabiam que eles se organizavam em “cartel”.
Depois eram os almoços, sempre em lugares diferentes, dos Presidentes e do Advogados que lhe davam assessoria.
Por fim acertavam as comissões a pagar, em dinheiro ou em futuras nomeações para os Conselhos de Administração. Ricardo optou por estar atento a movimentos de capitais oriundos ou enviados para sociedades “offshore”.
O verdadeiro trabalho era feito à noite, depois do jantar, utilizando os meios informáticos que fora instalando no escritório e aplicando o que aprendera com o consultor, que já em tempos o aconselhara, quando ele percebeu que para combater o crime organizado, era necessário chegar às fontes de financiamento e aos movimentos do dinheiro. O resto era irrelevante.
Encontrara o rastro do dinheiro e agora só precisava de ligar o puzzle.
E, nesse momento, fora mandado parar.



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