terça-feira, 11 de janeiro de 2011

DUETO IMPREVISTO





VIOLONCELO

ALLEGRO


O fim de semana da família foi, naturalmente, afectado pela expectativa do encontro entre Ricardo e Sofia.
As duas filhas trocavam sinais de cumplicidade, porque haviam idealizado uma estratégia para o encontro. Também, porque tinham tido uma ajuda importante, ao falarem com a Dona Rosa, a empregada de Ricardo. A senhora, para além de dar as informações que a curiosidade das miúdas colocara, sugeriu que deveriam convencer a Mãe a ir entregar o telemóvel, apenas na segunda feira ao fim do dia, pois ela precisava de tempo para preparar o caminho.
Sofia apercebia-se dos segredinhos entre as duas e a impaciência com que aguardavam o inicio da semana. Sabia que elas tinham alguma surpresa, mas não quis roubar-lhes o prazer e o ar feliz, com que as via.
Logo pela manhã, Catarina ao despedir-se antes de entrar no autocarro da escola, recomendou:
-Mãe, não te esqueças de me vir buscar antes de irmos entregar o telemóvel!
Sofia sorriu e com um beijo segredou: - Achas que a Mãe se iria esquecer de uma coisa tão importante?
Como os ensaios da orquestra só começavam após as catorze horas, Sofia costumava sair por volta da hora do almoço. Naquele dia decidiu ir bastante mais cedo, dizendo a Carolina, que precisava de passar pelo cabeleireiro, já que na sexta-feira tinha um concerto.
A filha esboçou um sorriso irónico, recomendando à Mãe que uma massagem também lhe faria bem. Sabes, alivia o stress do primeiro encontro!
O ensaio correu bem e o maestro dispensou os músicos antes da hora habitual. Sofia aproveitou, viajou num comboio mais cedo, pegou no carro e chegou a casa antes das filhas. Tomou um banho rápido , escolheu para usar um vestido que poucas vezes usara, mas que gostava, por ser simples, despretensioso, mas de bom gosto.
Mirou-se ao espelho e gostou de se ver. Escolheu apenas um colar de fantasia para compor o decote do vestido.
Levada pelo entusiasmo das miúdas, também ela se estava a preparar para um jantar romântico. Que disparate, pensou, não foi só entusiasmo das miúdas que me levou a vir correndo para casa e a escolher uma toilete mais formal. Na realidade, sentia que o seu tempo poderia estar a fugir e o apelo do seu corpo de mulher foi mais forte.
Apesar de tudo prevaleceu a razão. O futuro ninguém conhece, mas forçar o caminho é uma grande disparate.
Eu reconheço que o olhar de Ricardo não me foi indiferente, e até acho que a simpatia foi mútua, mas o que vou fazer a casa dele é tão simples,só entregar um telemóvel que por descuido guardei comigo.
Preciso de bom senso, o encontro pode demorar apenas dois minutos e não faço a menor ideia das pessoas que lá poderei encontrar.
Despiu o vestido e optou por uma blusa clássica e umas calças a condizer. Está melhor e assim não ficarei constrangida por nenhum imprevisto.
As filhas chegaram quase ao mesmo tempo e foram encontrar a Mãe na cozinha a preparar o jantar.
Oh Mãe, tu não nos digas que vais assim vestida? Só te falta pôr um avental e calçar uns chinelos!
Então, tinhas tanta pressa tinha de arranjar o cabelo, e ele está lindo, e depois é assim?
Minhas meninas, não sei o que vocês andaram a combinar, nem com quem. Mas a Mãe vai com vocês como combinado mas da forma que eu escolher, ou então fico em casa de avental e chinelos e vocês vão entregar o telemóvel.
Mas oh Mãe,nós gostamos de ter ver ainda mais bonita e achamos que deves arranjar companhia para saíres de vez em quando. Qualquer dia nem nos podes ver e a tua amiga Raquel ainda te convence a arranjar um par de gatos para companhia, por ela fez. É isso que queres?
Nós percebemos ou teu entusiasmo ao falares do Ricardo e agora tudo morreu?
Não adianta Catarina, a mãe decidiu ir vestida informalmente, pois será assim.
Só te pedimos para colocares no cabelo esta rosa que fomos comprar. Faz isso por nós.
Sofia, deixou escapar uma lágrima, colocou a flor dizendo:
-Vá, vamos lá conhecer o homem que me ajudou e que pelos vistos, vocês as duas, conhecem melhor do eu.





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