quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

UM HOMEM DE RESPEITO




5 – REVELAÇÃO

A porteira estava tão ávida por ouvir as notícias, prometidas, sobre a vida do Doutor, que ainda não eram dezoito horas, já tocava a campainha. Com o sorriso do costume foi convidada a entrar. Venha Dona Felicidade, embora saiba que a senhora conhece o andar, queria mostrar o espaço que ocupo no dia a dia.
Já sabe que eu não me sirvo da cozinha, por isso não repare alguma desarrumação.
Mas vamos passar ao salão que funciona para descansar e, principalmente, como escritório.
As outras salas são os dois quartos, a suite onde durmo, e entreabriu a porta, e a Dona Felicidade, mesmo de relance espreitou e viu tudo arrumado, e o quarto das visitas que serve para guardar caixas de equipamento informático que ainda não instalei.
Como vê minha simpática amiga, permita-me que a trate assim, nada há para esconder.
Mas, perguntará a senhora, se assim é, porque razão me pediu segredo?
É verdade senhor Doutor, não havendo nada de suspeito, não percebi o seu pedido!
Então faça o favor de sentar, enquanto lhe explico.
Dirigiu-se à secretária de trabalho, bem grande por sinal, ligou um computador grande um outro mais pequeno e mais uma série de maquinetas, que a pobre da Dona Felicidade, nunca havia sequer visto e não fazia a mais pálida para que serviam. As paredes estavam cheias de papéis mas não os percebia.
O que viu é apenas uma parte dos equipamentos informáticos que utilizo, esclareceu o inquilino. Um que me faz falta é uma antena, como as que a senhora já viu para receber a televisão por satélite. É essa antena que terei de montar no terraço, num lugar que não seja vista da rua, pois é através dela que terei acesso aos dados que preciso.
Parece tudo muito complicado, mas não é assim. E esse é o segredo que lhe vou desvendar, com a convicção total na sua descrição.
Na realidade, Frederico Pires não é o meu verdadeiro nome mas, mesmo se quisesse, o não lho poderia revelar, por ser considerada uma falha grave na segurança. E com a segurança não se brinca, a senhora sabe isso.
A coitada da Dona Felicidade, nem sabia o que dizer ou fazer. Estava hipnotizada e, de certa forma, também assustada.
Só para a senhora perceber o que acabou de ouvir, eu pertenço a um restrito de pessoas que vigiam as comunicações, Internet, telemóveis, etc. analisando e tratando as informações para detectar possíveis atentados terroristas. O serviço é dirigido por alguém num qualquer país e não nos conhecemos uns aos outros. Só o computador central tem a chave.
O inquilino fez uma pausa, estendeu a mão à senhora Dona Felicidade para receber a chave do terraço, agradeceu, rematando:
- Dona Felicidade, o que lhe contei é verdade. Não quero que a senhora esteja assustada, e só lhe contei o que faço, pela confiança que em si depositei.
Estendeu as duas mãos, apertou com força as mãos da pobre porteira, como se estivassem a selar um pacto.
A Dona Felicidade saiu lívida e precisou de passar alguns momentos entre dois andares, para recuperar as forças. Depois, concluiu que, nunca pensara que a sua curiosidade lhe tivesse pregado tamanho susto. É bem feito.

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