quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

UM HOMEM DE RESPEITO





4 – SEGREDOS

As dúvidas que assolavam a cabeça da Dona Felicidade não a deixavam. E isso fazia-lhe mal. Ela não só simpatizava, de verdade, com o inquilino como o facto de viver só e de tratar das suas coisas, lhe despertava o instinto maternal. Ela, que não fora mãe tinha necessidade de se dar.
Foi com surpresa que no sábado, antes da hora do almoço, ouviu e viu o inquilino bater na sua porta. Mal a abriu, e com o sorriso do costume, o inquilino pede-lhe a sua atenção:
- Dona Felicidade, eu compreendo que a minha maneira de se ser e de viver, lhe possa causar dúvidas e se assim é, peço as minhas desculpas. Quando a senhora tiver um pouco do seu tempo eu gostaria de responder a todas as questões que me quiser colocar, incluindo o meu pedido da chave do terraço. Se confiar em mim falarei sobre a minha vida particular, mas, como calcula, de uma forma privada.
Se a senhora quiser ir a minha casa será bem-vinda mas se preferir, podemos conversar no café que a senhora escolher. O que é que me diz?
Oh Senhor Doutor, eu não tenho que controlar a vidas dos condóminos. Mas só se houver desacatos ou barulhos que perturbem os vizinhos é que eu comunico ao senhorio. Mas tento estar atenta aos movimentos de algumas pessoas, normalmente mulheres …o Doutor sabe a quem eu me refiro. Eu até comentei com pessoas amigas que a novo inquilino era um homem de respeito e muito educado. E, isso é o que eu penso de si.
Eu irei ao seu apartamento quando o senhor quiser falar. Só lhe peço desculpa, porque terei de dizer ao meu marido para olhar pela portaria.
- Compreendo Dona Felicidade e se a senhora se sentir melhor, o seu marido também pode vir. A única coisa que peço, é que o que for dito, deve ficar entre nós.
Eu vou sair para almoçar com um amigo íntimo. Vou demorar algum tempo, pois temos negócios em comum, mas às dezoito horas já estarei no apartamento. Se lhe der jeito pode ser nessa altura. Dona Felicidade obrigado pelo tempo que lhe roubei.
A porteira, fechou a porta e percebeu que o marido teria ouvido a conversa e comentou com ar trocista; Oh Gonçalo, agora é que te deu para teres ciúmes?
E vou ouvir o que o Doutor tem ara dizer, e tu também queres ir? Lembra-te que se eu não irei contar as minhas amigas e tu também não podes dar com a língua com dentes.
Ah, já estou e ver filme, resmunga o marido. Ele conta uma série de mentiras e tu cais como um patinho. Depois não te queixes. Vai tu, porque eu vou ficar a ver o futebol.

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